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Maestro João Carlos Martins

04/12/2017 Três infortúnios atingiram o pianista paulistano João Carlos Martins, de 77 anos: um acidente em Nova York, em 1958, impediu movimentos dos dedos da mão direita; um golpe na cabeça em Sófia, em 1995, quase encerrou sua carreira musical; e o envolvimento no caso Pau Brasil em 1995, quando sua empreiteira foi condenada por desviar recursos para uma campanha política, abalou sua reputação política. Até então, era considerado um dos maiores intérpretes mundiais da obra de Johann Sebastian Bach e um dos gestores mais criativos que já passaram pela Secretaria de Cultura do Estado São Paulo. Como músico, gravou a obra integral de Bach e se apresentou em milhares de turnês internacionais. Entre as façanhas na política cultural, foi o responsável pelos tombamentos do Teatro Brasileiro de Comédia e do Oficina, pela criação do Festival de Inverno de Campos do Jordão, em 1975, e pela Virada Cultural de São Paulo, em 2005.
Nos últimos 25 anos, Martins buscou crescer artisticamente assim como provar seu valor como cidadão diante de muitos ataques que recebeu. Em 2004, fundou a orquestra Filarmônica Bachiana, considerada a maior do gênero na América do Sul, e se tornou regente. Ao mesmo tempo, fora da política, iniciou uma série de projetos sociais e de educação musical em comunidades carentes. Para ampliar a atuação, criou a Fundação Bachiana junto ao SESI de São Paulo. Em 2017, sua autobiografia foi adaptada para o cinema no longa-metragem “João, o Maestro”, dirigido por Mauro Lima e estrelado por Alexandre Nero. “Estou realizado”, afirma. “Hoje não sou mais milionário, ganho apenas um salário da fundação, mas vivo o período mais feliz da minha vida”
“Dizem que quando um país funciona bem, ele é como uma orquestra. Quero ver o Brasil em harmonia pela força da música”
Para coroar a carreira, quer ainda deixar um legado: espalhar a música pelo Brasil por meio da prática de orquestra. Em janeiro, iniciou o projeto “Orquestrando São Paulo” para capacitar regentes e músicos de 30 orquestras de cidades de até 80 mil habitantes. A formação inclui ensino a distância pela internet e visitas frequentes às orquestras. “Pretendo aplicar a ação em todo o País”, diz. “Em cinco anos, vou criar cem orquestras.” O sonho de Martins é reunir 30 mil músicos em um estádio para formar a maior orquestra do mundo. “Dizem que quando um país funciona bem ele é como uma orquestra. Quero ver o Brasil em harmonia pela música. Ela pode resgatar a autoestima e orientar os brasileiros a ser donos do seu destino.”
Em uma carreira marcada pela superação e pela redenção, ele só não se rende à resignação. Apesar das evidências científicas, que afirmam que ele não pode mais tocar piano, continua a teimar. Chega a amarrar aos dedos lixas de unhas de Carmen, sua mulher, para interpretar obras de Bach e outros mestres, e assim emocionar o público. Para João Carlos Martins, música é sinônimo de ética.

Matéria da Revista IstoÉ
Luís Antônio Giron
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